A situação política brasileira nunca foi tão imprevisível como
atualmente; são tempos de enorme imponderabilidade. Denúncias e escândalos se
sucedem vertiginosamente, a Nação é desmanchada com incrível ferocidade e o
Estado de Direito está sendo violentado até a morte por ataques contínuos à
democracia.
Isso tudo se desenrola num ambiente de exceção jurídica e de caos
institucional em que viceja a atuação anômala dos não-eleitos – os empoderados
sem voto popular – na arena da política: a mídia, o judiciário, ministério
público, polícia federal, sistema financeiro e o grande capital.
Todo arsenal de análise da conjuntura e prospecção do futuro que era
válido até antes do golpe de 2016, hoje já não oferece muita utilidade. Se é
difícil estimar as tendências para o dia seguinte, prospectar saídas de médio e
longo prazos para a situação atual é uma tarefa irrealizável.
Chegamos, por outro lado, a um ponto em que valores e referências como a
sensatez, a decência e a legalidade perderam totalmente sentido.
Quem, em sã consciência, poderia imaginar que o conspirador Michel Temer
ainda continuaria ocupando o Palácio do Planalto mesmo após ser flagrado altas
horas da noite, numa agenda secreta, combinando crimes com um
empresário-corruptor?
A blindagem assegurada ao Temer pela Câmara dos Deputados, com o
objetivo de impedir seu julgamento pelo STF, é um marco da desfaçatez, do
cinismo e da hipocrisia reinantes.
Com este vale-tudo da política e da justiça, toda classe de vilania e
tirania passou a ser autorizada, aceita e validada. No Brasil golpeado e
submetido ao regime de exceção, vige um “novo normal” à margem do Estado de
Direito e da democracia.
Se tudo pode ser feito sem obediência às normas e às regras instituídas
e, além disso, em afronta ao pacto social de 1988, então tudo estará
autorizado, tudo estará validado, e o Brasil continuará o mergulho trágico nas
profundezas do regime de exceção.
A partir do momento em que o establishment consumou,
com a cumplicidade do STF, o processo fraudulento que derrubou uma Presidente
honesta e inocente para colocar em seu lugar um conspirador corrupto,
iniciou-se o festival de arbitrariedades e abusos que está longe de acabar.
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